Os shoppings estão em alta com lojistas em queda? Se isso for verdade essa conta não fecha. mas é importante ir além de assuntos fragmentados. Em agosto de 2025, os shopping centers brasileiros exibem números impressionantes. Segundo o Censo Brasileiro de Shopping Centers 2024–2025, divulgado pela Abrasce, o país conta com 648 empreendimentos em operação, distribuídos em 249 municípios. O número de lojas chegou a 123.266 unidades, e a área bruta locável atingiu 18,2 milhões de m². A taxa de ocupação está em 95,3%, e o setor registrou 476 milhões de visitantes por mês em 2024. O faturamento foi recorde: R$ 198,4 bilhões em 2024, com projeção de R$ 201,6 bilhões para 2025. Esses dados estão disponíveis também na página oficial da Abrasce.
À primeira vista, tudo indica um setor em expansão sólida. Mas diante desses dados, surge uma pergunta inevitável: se os shoppings estão crescendo, por que tantos lojistas estão enfrentando dificuldades?
O Lado Invisível do Crescimento
E aqui é preciso ser direto: os desafios dos lojistas são reais e mensuráveis. Segundo análises da Central do Varejo e da Migalhas, o ambiente econômico de 2025 tem sido especialmente hostil para quem opera na ponta. A combinação de juros altos (Selic em 15%), inflação persistente, concorrência agressiva do e-commerce estrangeiro, queda no poder de compra das famílias e reajustes contratuais descolados da realidade do varejo tem corroído as margens de lucro. Muitos lojistas, especialmente os independentes, enfrentam inadimplência crescente, dificuldades para manter o fluxo de caixa e contratos de locação que ignoram a volatilidade do consumo.
Há relatos de fechamento de unidades comerciais em diversos centros de compras, mas é importante destacar que esses casos são pontuais e não necessariamente indicam encerramento de operações nacionais. Por exemplo, a Authentic Feet segue ativa com mais de 90 lojas físicas e, inclusive, inaugurou uma nova unidade com conceito inovador em agosto de 2025 no Riopreto Shopping, como divulgado pelo STNews. Já a Camicado, pertencente ao grupo Lojas Renner, mantém presença em diversos estados, com operações em andamento e sem registros públicos de encerramento.
Os shoppings continuam sendo um espaço de posicionamento e de oportunidades
O varejo físico, incluindo lojas de shopping, teve queda de 1,4% no faturamento em junho. O fluxo de consumidores caiu 11% nos shoppings e 10% no comércio de rua. Os dados agregados mostram crescimento, mas os relatos individuais revelam sufocamento. Grandes redes puxam a média para cima, enquanto pequenos empreendedores enfrentam margens apertadas e pouca flexibilidade. Incentivos pontuais e renegociações podem maquiar a saúde real do setor, criando uma aparência de estabilidade que não se sustenta para todos.
Ainda assim, os shoppings continuam sendo uma oportunidade relevante para posicionamento de marcas — especialmente aquelas que conseguem se adaptar ao novo perfil de consumo. Em 2025, há uma clara tendência de transformação dos shoppings em centros de experiência, com foco em gastronomia, serviços, entretenimento e integração digital. Modelos de locação mais flexíveis, como aluguel baseado em percentual de vendas e pop-up stores, permitem que marcas testem formatos com menor risco. Mas essa oportunidade não é universal. Lojistas com contratos antigos, pouco flexíveis ou sem capacidade de investir em experiência e tecnologia enfrentam um ambiente hostil.
As lojas de rua no meio dessa batalha
Enquanto isso, as lojas de rua mostram sinais de resiliência. Dados do primeiro semestre indicam que o fluxo em pontos de rua cresceu 0,9%, enquanto o movimento nos shoppings caiu 0,7% no mesmo período. Segmentos como perfumaria, farmácia e telefonia tiveram bom desempenho, e há expectativa de crescimento de até 17% no segundo semestre, impulsionado por datas comerciais e estratégias mais ágeis de conversão de vendas.
Melhor do que ter todas as respostas é saber o que perguntar
A pergunta que precisa ser feita, com urgência, é esta: o crescimento dos shoppings é realmente sustentável ou está sendo construído sobre uma base de fragilidade operacional e dependência de grandes redes? E mais: será que a loja de rua, com custos menores e maior flexibilidade, está se tornando uma alternativa mais viável para o varejo físico?
Não há uma mentira explícita — há verdades fragmentadas. Os administradores dos shoppings divulgam resultados legítimos, mas parciais. Os lojistas vivem uma realidade ignorada pelos números consolidados. O setor opera em dois mundos: o da expansão imobiliária e o da sobrevivência comercial.
Se os shoppings desejam se consolidar como centros econômicos saudáveis e inclusivos, precisam ir além dos indicadores. Ouvir os lojistas, rever contratos e oferecer suporte real são medidas essenciais. Caso contrário, o sucesso será apenas uma vitrine — e atrás dela, o colapso estará em pleno andamento.
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