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Saúde mental do empreendedor na era digital

Em um mundo conectado, há um mito de que é “mais fácil” enriquecer na internet, o que pode gerar danos a saúde mental dos que não alcançam esta meta

por Ana Raquel Lelles
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Saúde mental do empreendedor na era digital

Com mais de 176 mil seguidores no perfil Uiara Intimates no Instagram, 167 mil no Versiani Swim e 44 mil conta pessoal, a empresária Uiara Freitas está colhendo os frutos de mais de 12 anos de empreendedorismo. Mas quem vê os números nas redes sociais e a quantidade de clientes não imagina os bastidores desta jornada.  Ela destaca que é preciso ter um olhar atento para a saúde mental do empreendedor na era digital.

Em uma rápida pesquisa na internet sobre empreendedorismo, artigos e vídeos prometem te fazer ganhar – muito – dinheiro e, acima de tudo, bem rápido. O principal ponto destes conteúdos é “usar a era digital a seu favor”. Ou seja: não é necessário um grande investimento, dá pra fazer acontecer com o celular e um produto nas mãos.

“Realmente, com estratégia, é possível enriquecer com mais facilidade [na era digital. Graças a tecnologia, hoje conseguimos escalar negócios que sem a internet, jamais conseguiríamos no mesmo prazo”, comenta Uiara.  A empresária dá um exemplo: é possível ser milionário produzindo vídeos para crianças no YouTube, como é o caso de Luccas Neto, que tem mais de 40 milhões de inscritos na plataforma, além de comercializar diversos produtos. Mas, nem todos os empreendimentos na internet são certeiros de sucesso. 

“Acho que o digital acelerou muito a mente e ambição dos adolescentes/jovens enriquecerem rapidamente. O que na minha opinião não é tão bom assim, porque a grande maioria realmente acredita que não precisa se esforçar, que não existe renúncia e que não é necessário trabalho duro. E é aí que nasce a frustração gigantesca de se sentirem incapazes e impotentes diante de um mundo (digital) com tantas possibilidades”  – acrescenta Uiara Freitas

Saúde mental do empreendedor na era digitalO ato de empreender não é uma “mágica”. É preciso muito investimento financeiro, disposição, esforço, vontade de fazer acontecer, entre outros fatores. A vida real quebra todas as expectativas de “contos de fadas” rapidamente, e pode prejudicar a saúde mental. 

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“A ilusão que vendem na internet é muito triste. As pessoas hoje pensam que ganhar dinheiro é questão de fazer o que alguém que está ganhando dinheiro está fazendo. Esquecem que estão vendo apenas uma parte muito pequena, muitas vezes escondida atrás de muitas mentiras, e tomam isso como verdadeiro. Existe um outro lado também: acreditar que foi fácil e rápido. As pessoas querem a fórmula do sucesso. Saber a receita do bolo, sem ter que comprar nenhum ingrediente. E acreditem: querem o bolo pronto em um piscar de olhos”, comenta Uiara. 

O sócio-fundador e CEO da Casa do Construtor, Altino Cristofoletti Junior, concorda com a visão da Uiara. Ao longo de 30 anos de carreira, a Casa do Construtor tem mais de 600 lojas espalhadas pelo Brasil. Mas, antes desse sucesso, Altino e o sócio tiveram uma série de desafios. 

“Em geral, as pessoas veem apenas a parte final de todo um esforço que foi empregado, que é o patrimônio acumulado. Com uma sede nova e moderna e desconsideram toda a jornada até chegar até ali. Além disso, boa parte desconhece conceitos de gestão de negócios e de pessoas, o que gera uma confusão entre o que é o patrimônio da empresa e o pessoal de quem empreendeu” – Altino Cristofoletti Junior

O empresário comenta que há profissionais sérios que oferecem conteúdos sobre empreendedorismo. Porém, é preciso cuidado. “O mundo digital, com seus influenciadores multimilionários são vistos por muitos como um trampolim para o enriquecimento. É verdade que há aqueles que estão em uma situação financeira privilegiada porque chamaram a atenção de marcas em decorrência do volume de seguidores e do conteúdo que oferece grande engajamento. Mas, não são tantos assim e isso era mais fácil de acontecer nos primórdios das redes sociais. Atualmente, está mais difícil acontecer porque, digamos, a concorrência está muito acirrada”. reforça Altino.

Saúde mental do empreendedor na era digital

Fotos: Reprodução Redes Sociais Uiara e Divulgação

Saúde mental na trajetória de empreendedorismo 

Para Uiara, um dos principais desafios ao começar a empreender foi ter a saúde mental prejudicada. “Tive uma depressão profunda após o primeiro burnout. Cresci 300% na pandemia, construí um time do zero depois de 6 anos de marca, tive o segundo burnout – e não terei o terceiro”, conta a empresária.

Hoje, ela é diretora e idealizadora da loja de roupas íntimas Uiara Intimates, que está em fase de ascensão, e co-fundadora da Versiani Swim, que trabalha com a venda e produção de roupas de banho únicas e tem parceria com grandes nomes da mídia, como a influenciadora Brunna Gonçalves. 

Mas, a história dela começou muito antes do sucesso. Aos 8 anos, ela vendia adesivos. Aos 16, começou a vender pulseiras na escola, que eram uma “febre” na época, como ela conta. Quando a “moda” passou, o empreendedorismo em lingerie começou.  Pensei em um nicho que as meninas da minha idade não perceberam: lingerie. Quando comecei, meu mercado era extremamente sexual. As mulheres usavam lingerie COM alguém ou PARA alguém. Ensinei que elas poderiam vestir pra elas mesmas e que isso de desdobraria em autoconfiança e autoestima e aí foi a virada de chave. Pouquíssimas marcas falavam sobre autoestima 11 anos atrás no meu segmento”, afirma Uiara.

Ela revela que o primeiro investimento foi de R$ 1.200, em lingeries no interior do Rio de Janeiro. “No começo, optei pela revenda de marcas já consolidadas. Apostei num atendimento domiciliar totalmente personalizado como diferencial, e no primeiro ano eu já tinha mais de mil clientes ativas. Foi surpreendente! O sucesso no formato do negócio (devido ao atendimento pessoal) era tamanho, que senti a necessidade de replicar o atendimento com revendedoras credenciadas”, comenta. 

Saúde mental do empreendedor na era digital

Reprodução das redes sociais

Em paralelo aos estudos em Direito na Milton Campos, em que se graduou, ela administrava uma equipe com outras 12 mulheres que “comercializavam as marcas que escolhi trabalhar”. 

Todo o processo de compra e venda era cuidadosamente avaliado. “Para escolher uma marca para revender, analisava os critérios que considero mais importantes numa roupa íntima: conforto da peça, versatilidade, qualidade dos acabamentos e, claro, tendências de mercado. Eu amava procurar aqui, o que via nas vitrines fora do Brasil e, curiosamente, foi aí que minha marca aconteceu: passei de representante a criadora dos meus produtos”, conta.

Neste período, ela precisou de muita coragem para lidar com as frustrações. “E disciplina e constância até colher o ‘primeiro fruto’. Muitos desistem antes disso”, comenta.

Desde o primeiro momento, a saúde mental é prioridade para a empresária. As pessoas precisam urgentemente tratar questões de saúde mental, como tratam questões de saúde física. Vou dar um exemplo bem didático pra vocês captarem a mensagem: Se você quebrar sua perna, tiver uma fratura exposta, e por alguma razão (talvez até neurológica), não sentir dor, você iria pro trabalho assim? Você ignoraria isso e seguiria os afazeres do dia sem olhar pra isso? Não. Se tiver um aumento anormal da pressão, à beira de um infarto ou AVC e sentir uma dor insuportável no peito, você ignoraria? As doenças mentais e psicossomáticas – como por exemplo, depressão, ansiedade, compulsões, dependência química – são silenciosas. Os danos são tão grandes quanto as que conseguimos enxergar com nossos olhos. Em alguns casos até maiores

“As doenças mentais nos afetam em vários níveis e nos privam de desfrutar de uma vida com qualidade. Nos priva de vivermos a completude que somos. Não existe CNPJ forte com um CPF fraco. A mudança começa quando um conteúdo assim faz sentido na sua cabeça. Procure ajuda. Ajude alguém. No final das contas, estamos todos conectados” – Uiara Freitas 

Após o burnout – também conhecido como Síndrome do Esgotamento Profissional – que Uiara nos contou no começo da matéria, a empresária se “abriu para a cura”, com terapia, psiquiatria, práticas de meditação e “conexão profunda com Deus”. E, em paralelo, criação de novos hábitos, como o tempo de descanso. 

Tenho certeza que na depressão, eu estava sendo 40% do meu potencial, pelo simples fato de não dar conta. Isso me atrapalhou nos meus relacionamentos, no meu trabalho, me poupou crescimento, oportunidades. Mas hoje entendo que foi um propósito e um processo”, comenta.

Saúde mental do empreendedor na era digitalComo cuidar da saúde mental enquanto empreende?

“Acredito que um empreendedor ou futuro empreendedor deva cuidar da saúde como um todo. É preciso se alimentar bem e praticar atividades físicas. Além disso, considero fundamental tirar momentos de descanso e relaxamento para estar com aqueles entes queridos – sejam familiares ou amigos. Também aconselho não deixar de lado os hobbies e atividades que relaxam a mente porque boas ideias costumam surgir nesses momentos”, comenta Altino. 

Uiara completa a fala do empresário: “Práticas de respiração, autoconhecimento e terapia, exercício físico diariamente, e um médico psiquiatra se todas as opções anteriores ainda não forem o suficiente”

Altino também afirma que o “Sempre digo que um empreendedor precisa desenvolver duas características: paciência e resiliência”.

“Os resultados não virão de um dia para o outro e até que o negócio engrene, serão necessárias grandes doses de paciência. Haverá momentos em que a vontade de desistir e o desânimo serão muito grandes. É aí que entra a resiliência. É preciso persistir, continuar a trabalhar duro porque, certamente, uma hora ou outra o jogo vira”, reforça o CEO da Casa do Construtor.

O melhor de tudo é perceber que nenhuma das histórias acima veio no formato de mágica. Teve muito envolvimento, disponibilidade e foco para perceber que caminho seguir. E nada mais justo do que seguir as empresas que nos ajudaram a construir essa matéria que vem afetando em cheio milhares de empresários por todo país.

De acordo com o Coordenador de Especialização da PUC Minas, Rodrigo Campelo, é preciso ter muita cautela. De acordo com ele “Cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém, mas enquanto as pessoas acreditarem que o resultado vem de um jeito fácil e simples, haverá sempre muito espaço para o desgosto, para o sentimento de derrota. O primeiro passo é parar de olhar para fora e olhar para dentro. Onde você estava há 3 anos e onde está agora. O que construiu, o que aprendeu”, rebate o coordenador da PUC Minas.

Muitos acreditam que ele só ensina, mas Campelo está num patamar diferente de alguns professores. É um empreendedor serial, atua na formatação e expansão de franquias, na área de comunicação com notícias, colunas, treinamentos e capacitação e além disso tem tempo para criar coisas novas. De acordo com ele o maior aprendizado foi aprender e aceitar a delegação. “Aproveitar o momento para aprender e entender o que está acontecendo com o mercado. Medir o seu resultado com a evolução do seu negócio pode minimizar a frustração. Entender o que o concorrente faz é perceber se está no caminho correto”, dispara sem dó Campelo.

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