A ABF – Associação Brasileira de Franchising realizou sua feira entre os dias 25 e 28 de junho, em São Paulo. Embora os números revelados no evento demonstrem um setor mais maduro e em plena transformação — com avanços em inteligência artificial, na formação de empreendedores e na expansão para cidades menores —, questões graves pairam sobre o sistema de franquias e colocam em xeque a credibilidade do modelo.
Antes de tudo, é importante lembrar: ainda que a ABF não seja um órgão regulador, ela é a principal entidade representativa do setor no Brasil. Seu papel institucional não se limita à promoção de eventos — a ABF orienta práticas, avalia documentos como COF, contratos e manuais dos associados, e ajuda a moldar o comportamento de franqueadores e franqueados. É, portanto, referência ética e técnica para quem empreende no franchising. Diante disso, é legítimo esperar que a entidade atue com firmeza sempre que surgirem denúncias que ameacem a integridade do setor.
Foi justamente esse contraste — entre a força institucional da ABF e a ausência de posicionamento diante de denúncias — que se destacou na coletiva de imprensa realizada durante a feira. Conduzida pelo presidente Tom Moreira Leite, pelo vice-presidente Décio Pecin e pelo diretor jurídico Natan Baril, a coletiva foi marcada por questionamentos que já circulam no mercado desde maio.
Entre eles, os relatos de franqueados da Cacau Show que apontam cobranças consideradas indevidas, taxas não previstas contratualmente e alegações de ambiente de trabalho marcado por pressão excessiva. A empresa nega qualquer irregularidade e afirma seguir padrões rígidos de conduta.
No caso da Odontoclinic, franqueados vêm usando as redes sociais para denunciar a ausência de critérios claros sobre a atuação geográfica de novas unidades — o que, segundo eles, tem provocado conflitos entre franqueados e prejuízos financeiros. A franqueadora também contesta as alegações e afirma manter diálogo aberto com seus parceiros.
As denúncias mais graves, no entanto, envolvem uma rede de estética que, segundo o portal Metrópoles, é alvo de dois inquéritos civis abertos pelo Ministério Público desde 2024. As investigações apuram suspeitas de propaganda enganosa, possibilidade de estrutura em formato de pirâmide financeira, concorrência desleal entre marcas do mesmo grupo franqueador e falta de transparência na destinação dos valores pagos pelos franqueados. De acordo com o mesmo portal, o advogado que representa parte das vítimas afirma que 36 pedidos de insolvência foram protocolados nos últimos 30 dias. A empresa citada nega todas as acusações e se compromete a colaborar com as investigações.
Além disso, ex-franqueados de diferentes marcas passaram a relatar nas redes sociais casos de cobranças arbitrárias e uso de táticas que, segundo os relatos, envolvem coerção para contenção da inadimplência. Em pleno século XXI, em um mercado cada vez mais digital e profissionalizado, soa inaceitável que ainda se fale em métodos que flertem com intimidação como forma de cobrança.
Diante desse cenário, o posicionamento da ABF decepcionou. A associação emitiu apenas uma nota institucional vaga, destacando princípios como transparência e boas práticas, mas sem citar diretamente os casos em investigação, sem manifestar repúdio explícito às práticas relatadas e sem oferecer suporte claro às autoridades que apuram os fatos. A ausência de contundência gera a sensação de que a entidade prefere proteger grandes marcas associadas a enfrentar os problemas de frente.

Imagem de Robin Higgins por Pixabay
Para franqueados que acreditam no sistema, franqueadores que atuam de forma ética e empreendedores que se baseiam no apoio da ABF para investir com segurança, o silêncio institucional é ensurdecedor. Em momentos de crise, a imparcialidade não pode significar omissão. A entidade precisa dizer com todas as letras: repudia práticas abusivas, está acompanhando os casos e adotará medidas, inclusive internas, caso as denúncias sejam confirmadas.
Enquanto isso não acontecer, a crise deixa de ser isolada e passa a contaminar a reputação do franchising como um todo. A credibilidade da própria ABF começa a ser afetada. E como já dizia um assessor, quando eu ainda era superintendente de shopping em Minas Gerais: “quem tenta rolar para todos os lados pode acabar sendo bola fora”.
A omissão, neste caso, pode parecer conivência — e isso, no ambiente profissional, ético e transparente que o franchising precisa manter, não cabe mais.
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