A chegada da Geração Z ao mercado de trabalho tem sido, para muitas empresas, um verdadeiro desafio. Em um cenário onde a busca por talentos se intensifica e a cultura de trabalho passa por transformações, a compreensão e adaptação a essa nova força de trabalho tornam-se cruciais. Ao mesmo tempo, um debate pertinente emerge sobre o impacto de políticas de incentivo governamentais na dinâmica do emprego, especialmente para pequenas, médias e grandes empresas que enfrentam a dificuldade de preencher vagas e manter o engajamento.
Dados do IBGE e o cenário atual do emprego no Brasil indicam uma complexidade que vai além da simples oferta e demanda. O país, com sua vasta população, ainda lida com desafios estruturais no mercado de trabalho. Embora haja um esforço contínuo para a geração de empregos, a qualidade dessas vagas e o alinhamento entre as expectativas dos jovens e as necessidades das empresas nem sempre se encontram. A informalidade persiste em muitos setores, e a busca por uma carreira sólida e com propósito é uma das bandeiras levantadas pela Geração Z.
Um dos pontos de inflexão nessa discussão é o papel dos benefícios sociais e das políticas governamentais. É inegável a importância de programas de assistência para a subsistência de muitas famílias e para a redução da desigualdade. No entanto, o questionamento que se impõe é se, em alguns casos, o “suporte exagerado” do governo, como mencionado na questão, pode, paradoxalmente, afastar parte da população do mercado de trabalho formal, criando um problema crônico de falta de mão de obra e de engajamento, especialmente em setores que exigem menos qualificação ou oferecem salários iniciais mais baixos. Esse debate, embora sensível, é fundamental para a construção de um mercado de trabalho mais dinâmico e equitativo.
A cultura da Geração Z, marcada pela busca por propósito, flexibilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e um forte senso de impacto social, muitas vezes colide com modelos de trabalho mais tradicionais. Essa geração, que cresceu imersa na tecnologia e na informação, valoriza ambientes colaborativos, a autonomia e a oportunidade de desenvolver novas habilidades. Se, por um lado, isso representa um desafio para as empresas, que precisam repensar suas estruturas e culturas, por outro, abre portas para a inovação e para a construção de ambientes de trabalho mais produtivos e humanos.
A falta de engajamento, outro ponto levantado, é um sintoma dessa desconexão. Quando jovens talentos não se sentem parte de algo maior, não veem oportunidades de crescimento ou não se identificam com os valores da empresa, a rotatividade aumenta e a produtividade diminui. Isso se torna ainda mais crítico para a indústria, o varejo e, de forma acentuada, para os pequenos negócios, que muitas vezes não possuem a mesma estrutura de grandes corporações para oferecer pacotes de benefícios e planos de carreira atrativos.
Nesse contexto, a notícia da captação de R$ 1,2 milhão pela Mileto, uma startup brasileira, para atrair talentos do ensino médio, surge como um farol de esperança e uma demonstração de que é possível construir pontes entre educação e mercado de trabalho. A Mileto foca no Ensino Médio Integrado ao Técnico (M-Tec), uma modalidade que, como ressaltado na matéria, é uma fonte potente de talentos. A proposta de preparar e empregar 100 mil jovens até 2029 é ambiciosa e, se bem-sucedida, pode ter um impacto significativo no cenário da empregabilidade jovem no Brasil.
A iniciativa da Mileto, idealizada por Giuliano Amaral, Priscilla Fraga e Victor Bolonha, ex-profissionais com carreiras consolidadas que identificaram a lacuna entre escola e mercado, demonstra um novo olhar sobre a Geração Z. Em vez de vê-los apenas como um desafio, a Mileto os enxerga como uma oportunidade. Ao focar no M-Tec, a startup reconhece o valor de jovens que chegam ao mercado com uma base prática diferenciada, um perfil “mão na massa” e comprometidos com o próprio desenvolvimento. A plataforma não apenas recruta, mas também prepara esses estudantes em hard e soft skills, como análise de dados, inteligência artificial, comunicação e resolução de problemas, antes mesmo de eles concorrerem às vagas. Esse preparo prévio, seguido de mentoria e trilhas de aprendizado contínuo, é fundamental para acelerar a adaptação e a evolução do desempenho desses jovens no ambiente corporativo.
O sucesso inicial da Mileto, com 100% de satisfação dos jovens com o programa e 90% das empresas abrindo mais vagas após os primeiros três meses, valida o potencial dessa abordagem. Isso reforça a ideia de que o problema não está na Geração Z em si, mas na forma como o mercado de trabalho se relaciona com ela e na ausência de mecanismos que facilitem essa conexão.

Giuliano Amaral, CEO da Mileto
É importante ressaltar que a valorização do ensino técnico ainda é um desafio no Brasil. Enquanto em países da OCDE mais de 40% dos estudantes do ensino médio optam por formações técnicas com vivência prática, no Brasil esse número é de apenas 12%. Essa disparidade, como aponta Giuliano Amaral, está ligada a uma “crença cultural ultrapassada de que todo o sucesso se resume a um diploma universitário”. O M-Tec, quando combinado com o ensino superior, oferece um caminho formativo potente, que capacita os jovens com habilidades relevantes e transversais, preparando-os para as demandas do mercado e para carreiras gratificantes.
As soluções para reter e engajar funcionários, especialmente a Geração Z, precisam ir além dos benefícios financeiros. Embora um pacote de remuneração competitivo seja importante, outros fatores desempenham um papel crucial. A cultura organizacional, por exemplo, deve ser inclusiva, transparente e oferecer oportunidades de desenvolvimento. A Geração Z busca propósito em seu trabalho, deseja ver o impacto de suas contribuições e valoriza empresas que demonstram responsabilidade social e ambiental.
A entrega de benefícios, por sua vez, deve ser pensada de forma estratégica. Além dos tradicionais vale-refeição e plano de saúde, empresas podem considerar oferecer benefícios que se alinhem com as prioridades da Geração Z, como:
- Flexibilidade: Horários de trabalho flexíveis, modelos híbridos ou remotos, e a possibilidade de gerenciar o próprio tempo são altamente valorizados.
- Desenvolvimento contínuo: Acesso a cursos, treinamentos, mentorias e programas de capacitação são cruciais para essa geração que busca aprimoramento constante.
- Bem-estar: Programas de saúde mental, apoio psicológico, atividades físicas e ambientes de trabalho que promovam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
- Reconhecimento: Feedback construtivo e reconhecimento por suas contribuições são fundamentais para manter o engajamento e a motivação.
- Oportunidades de crescimento: Planos de carreira claros, oportunidades de ascensão e a chance de assumir novos desafios são essenciais para reter talentos.
Além disso, o uso de plataformas como a Mileto para encontrar pessoas para compor o quadro de funcionários e estagiários é uma estratégia inteligente. Essas plataformas funcionam como pontes entre as empresas e os talentos, otimizando o processo de recrutamento e seleção. Elas permitem que as empresas alcancem um público mais amplo e diversificado, com habilidades específicas e alinhadas às suas necessidades. Ao utilizar essas ferramentas, as empresas podem:
- Otimizar o tempo e os recursos: Reduzindo o custo e o tempo dedicados à busca por talentos.
- Acessar um pool de talentos qualificados: Plataformas como a Mileto já realizam um trabalho de pré-seleção e preparação, garantindo que os candidatos cheguem mais prontos para as vagas.
- Promover a diversidade e inclusão: Ao acessar diferentes grupos de jovens, as empresas podem construir equipes mais diversas e representativas.
- Fortalecer sua marca empregadora: Empresas que investem no desenvolvimento de jovens talentos e oferecem oportunidades de crescimento tendem a atrair mais e melhores profissionais.
No entanto, é crucial que o governo e o setor privado trabalhem em conjunto para criar um ambiente mais favorável ao emprego e ao desenvolvimento da Geração Z. Iniciativas como o Partiu IF, o BEEM (Bolsa de Estágio de Ensino Médio) e o Juros por Educação, que buscam incentivar tanto a ampliação da oferta de vagas no M-Tec quanto a contratação de jovens, são passos na direção certa. A meta de alcançar mais de 3 milhões de matrículas no M-Tec até 2030 é ambiciosa, mas se concretizada, poderá transformar o cenário educacional e econômico do Brasil.
O estudo do Itaú Educação e Trabalho, que estima um impacto no PIB equivalente ao da reforma tributária (crescimento de 2,32%) caso o número de vagas no Ensino Médio Técnico seja triplicado, reforça o potencial transformador dessa modalidade de ensino. É um “ganha-ganha”: o jovem ganha com o engajamento e prazer no aprendizado, e com um início de carreira de qualidade; a empresa ganha ao investir melhor na atração e desenvolvimento de talentos; e a sociedade ganha com o benefício para a economia como um todo.
Em suma, o desafio da Geração Z no mercado de trabalho não é intransponível. Ele exige uma mudança de mentalidade por parte das empresas, a disposição para adaptar culturas e processos, e o investimento em soluções inovadoras que conectem a educação ao mundo do trabalho. Ao mesmo tempo, é fundamental um debate construtivo sobre o impacto das políticas públicas, buscando um equilíbrio que incentive a entrada e a permanência no mercado de trabalho formal, sem desconsiderar a importância da rede de proteção social. Com um olhar estratégico e a colaboração entre todos os setores, é possível construir um futuro onde a Geração Z possa florescer, contribuindo ativamente para o desenvolvimento do Brasil.
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