O universo das franquias no Brasil, muitas vezes pintado com as cores do sucesso e da segurança, esconde uma realidade sombria e pouco discutida: o repasse de unidades. Um verdadeiro tabu que ameaça o sonho de franqueados e franqueadores. Longe da transparência e do dinamismo que caracterizam mercados maduros como o americano, onde o repasse é uma operação multimilionária e reconhecida, por aqui ele se mantém como um tabu.
Franqueadoras e o próprio setor preferem que o assunto permaneça nas sombras, perpetuando uma ilusão perigosa para quem sonha em ter o próprio negócio. É hora de desmistificar o repasse e encarar a dura verdade: ele não é uma via para a recuperação total do investimento, mas sim uma estratégia para minimizar prejuízos. Essa clareza precisa ser a base de qualquer discussão sobre o tema.
Por Que Tantas Lojas Estão Sendo Repassadas? A Realidade Por Trás dos Números
A visão de que o repasse de uma franquia é sinônimo de fracasso é simplista e perigosa. Embora problemas financeiros, como gestão inadequada ou falta de capital de giro, sejam fatores relevantes, eles não são os únicos motivadores. Muitos empreendedores se veem diante da necessidade de repassar suas unidades por razões que vão muito além do desempenho do negócio em si.
A falta de identificação com o negócio, muitas vezes resultado de uma decisão impulsiva ou de uma compreensão superficial do dia a dia da operação, é um motivo comum. O entusiasmo inicial pode dar lugar à frustração quando a paixão pelo segmento não se sustenta no cotidiano.
Além disso, mudanças pessoais ou profissionais inesperadas desempenham um papel significativo. Um divórcio, a necessidade de mudança de cidade, o surgimento de uma nova oportunidade de carreira ou até mesmo o desejo de seguir um caminho profissional completamente diferente podem levar um franqueado a reavaliar sua permanência no negócio.
Eventos inesperados como aposentadoria ou falecimento do franqueado também figuram entre os motivos para o repasse. É crucial entender que a decisão de repassar uma franquia pode ser multifacetada e não necessariamente reflete um fracasso do empreendimento. Ignorar essa complexidade só serve para reforçar o estigma e dificultar a busca por soluções transparentes.
O Jogo Perigoso do “Resgate” de Lojas: Uma Análise Crítica da Atuação de Algumas Franqueadoras
Enquanto o mercado de franquias projeta uma imagem de crescimento e oportunidades, algumas práticas de franqueadoras no que diz respeito ao repasse de unidades levantam sérias questões sobre a ética e a concorrência leal. A estratégia de “resgatar” lojas de franqueados em dificuldade, frequentemente justificada pelo discurso de “salvar pontos estratégicos”, revela-se, em muitos casos, uma cortina de fumaça para interesses próprios.
O que realmente acontece é a criação de um modelo híbrido, onde a rede passa a operar unidades próprias disfarçadas de pontos estratégicos, competindo diretamente com seus próprios parceiros. Essa prática não apenas distorce a concorrência, mas também gera um ambiente de desconfiança e prejuízo para os franqueados que se mantêm fiéis à marca.
A situação se agrava quando franqueadoras, em vez de investir na atração de novos leads para a expansão da rede, os redirecionam para “empurrar” repasses de unidades – muitas vezes, problemáticas – como se fossem grandes oportunidades. Essa manobra é especialmente prejudicial ao franqueado original, que entra no negócio buscando apoio e se vê transformado em mero fornecedor de leads para a matriz, em uma espécie de jogo de cadeiras que só beneficia a franqueadora.
Essa conduta levanta a séria questão: como justificar essa prática quando a promessa de parceria e suporte é o pilar da relação entre franqueador e franqueado? O silêncio e a falta de transparência em torno dessas operações apenas reforçam a sensação de que o setor prefere esconder a realidade a enfrentá-la.
Os Números Que Ninguém Ousa Mostrar: A Realidade Oculta do Repasse no Brasil
O repasse sempre foi o elefante branco na sala do franchising brasileiro. Embora seja um tema crucial para a saúde do setor, as franqueadoras, em sua maioria, preferem mantê-lo sob sigilo, temendo manchar a imagem de suas marcas e afastar potenciais investidores. O resultado são dados oficiais que, muitas vezes, parecem maquiados, incapazes de refletir a dimensão real do problema.
Entretanto, estudos sérios, como os realizados em parceria com a Negócio e Franquia, começam a lançar luz sobre essa realidade oculta. As estimativas são alarmantes: estima-se que mais de 25% das unidades em operação no Brasil estão em processo de repasse. Se considerarmos o universo de 197.709 franquias ativas no país, isso significa que mais de 49 mil unidades estão em situação crítica, seja por estarem em repasse urgente ou em uma condição de insucesso disfarçado. Esses números são um duro golpe no discurso otimista do setor e escancaram a necessidade de uma análise profunda e honesta sobre o tema.
A ausência de padronização e a falta de clareza na Circular de Oferta de Franquia (COF), um documento fundamental para quem pretende adquirir uma franquia, agravam ainda mais o cenário. Em vez de oferecer segurança e transparência, a COF, em muitos casos, se torna um labirinto de regras obscuras, deixando o franqueado à mercê das interpretações e interesses da franqueadora. Essa lacuna regulatória contribui para a insegurança jurídica e para a perpetuação de práticas que lesam o empreendedor.

Imagem de ErikaWittlieb por Pixabay
A Solução Está na Transparência e na Padronização: Um Caminho Para a Segurança Jurídica
Para que o mercado de franquias brasileiro alcance a maturidade e a solidez necessárias, é imperativo que o repasse seja reconhecido como uma parte natural do ciclo de vida de uma franquia, assim como acontece em mercados mais desenvolvidos como o americano e até mesmo no mercado europeu. Não é mais possível ignorar essa realidade ou tratá-la como um fracasso individual do franqueado.
A solução passa pela criação de regras claras e padronizadas para o repasse, que garantam a segurança jurídica tanto para franqueados quanto para franqueadoras. Essas regras devem evitar abusos por parte das redes, proteger os direitos dos franqueados e estabelecer um processo transparente e equitativo.
Além disso, é fundamental que haja uma campanha de conscientização para os futuros franqueados. É preciso desmistificar a ideia de que o repasse é uma forma de recuperar o valor integral do investimento. A realidade é que o repasse serve, em sua maioria, como uma redução de danos, uma forma de minimizar o prejuízo. Essa verdade precisa ser clara desde o primeiro contato do empreendedor com o mundo das franquias.
Enquanto o setor continuar fingindo que o problema do repasse não existe, milhares de empreendedores continuarão acumulando dívidas, frustrações e tendo seus sonhos de negócio próprio transformados em pesadelos. É hora de virar esse jogo, de romper com o tabu e construir um ambiente de franquias mais justo, transparente e seguro para todos. A hora de agir é agora. O futuro do empreendedorismo no Brasil depende dessa corajosa mudança de mentalidade e de prática.
O que você, como potencial franqueado ou franqueador, fará para que essa realidade se torne uma solução?
Saiba mais sobre a gente!
Se você curtiu este conteúdo, compartilhe com seus amigos e familiares e ajude-os a tomar decisões mais informadas ao empreender. Somos uma agência de conteúdo segmentado para empreendedores, franqueadores, franqueados, shopping centers e temos um portal recheado de informações valiosas para te apoiar nesse caminho. Não deixe de nos seguir nas redes sociais: estamos no LinkedIn, no Instagram, no Youtube e no Spotify, onde você pode curtir a nossa Playlist do Empreendedor. Conheça também nosso conteúdo em outros parceiros. Compartilhe e acompanhe a Negócio e Franquia!